MATÉRIAS ESPECIAIS

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Resgatando a história - Fernando Prestes e sua fundação

 

Publicado em 12/07/2020 as 6h20

 

Por José Saul Martins

Tenho buscado frequentemente informações documentais sobre a fundação de Fernando Prestes como núcleo urbano. Antes de continuar com esse argumento, quero mencionar o livro “Cidade de Fernando Prestes – Resgate de sua memória” que sou co-autor escrito entre 1987 e 1990, que traz no capitulo Aspectos Humanos no item Povoamento, à pagina 44, algumas referências sobre o que seria nossa fundação, ou melhor, o povoamento, não mencionando a formação do núcleo urbano.

 

Em nosso livro não fica claro quando isso se deu e as informações contidas foram obtidas com entrevistas de antigos moradores carecendo de possível bibliografia ou documentos pertinentes para cravar uma data, um ano pelo menos. Mencionamos no segundo parágrafo da página 44 que, Leonel José Ferraz comprou terras às margens esquerda do Ribeirão Mendes em 1891 que construiu uma casa e começou a exploração de madeira. Falamos de Francisco Sales de Almeida Leite no parágrafo terceiro que em 1894 comprou terras e plantou café na Fazenda Albertina. Em seguida já fomos para 1903 com a chegada de José Agustoni que também comprou terras onde é a sede do nosso município. Nota-se um hiato de informações sobre a criação do núcleo urbano e é isso que busco.

 

A dúvida paira se existimos como núcleo urbano antes de 1900 ou depois. Hoje já posso afirmar categoricamente que em 6 de abril de 1899 já existíamos. Ainda vou refinar essa busca, porque acredito que surgimos um pouco antes até. Mas vamos a minha descoberta em 6 de abril de 1899.

 

Pesquisando um acervo do jornal “O Atalaia” de Jaboticabal notei em sua edição nº22 de 6 de abril de 1899, à página 2, há uma série de anúncios de um estabelecimento comercial denominado “Casa Sorocabana” que de maneira até inusitada menciona um título e em seguida sugere seus produtos e uma dessas publicidades traz “FERNANDO PRESTES Última novidade em chapeos, recebeo a Casa Sorocabana”. Deixando claro que já existíamos e inclusive sugeria que comprássemos chapéus deles.

 

Como disse vou refinar ainda mais a busca porque acredito que tenhamos surgido antes de 1899. Para uma loja em Jaboticabal fazer um anúncio direcionado oferecendo um produto era sinal de que havia muitas cabeças que usavam chapéus na época.

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10 anos de Jardim Luchetti : o fim do medo e o êxodo para a terra firme

Publicado em 15/12/2018 as 12h

 

Por José Saul Martins

Na semana anterior havia chovido bastante em  Fernando Prestes e região, principalmente na micro bacia do Rio Mendes, desde sua cabeceira, no município vizinho de Cândido Rodrigues.  Aquele sábado, dia 27 de janeiro de 2007 trazia um céu carrancudo desde a manhã, mas foi a partir das 13h que escureceu mesmo, até acionando algumas luminárias das ruas. Prenúncio de muita chuva.

 

Sem raios e trovões a chuvarada começou por volta das 13h30. Uma chuva forte e cadenciada que foi pareando com os minutos e horas e consequentemente deixando a população ribeirinha de “orelha em pé”.

 

Como em muitas cidades, o povoamento começava às margens dos rios e córregos facilitando a captação de água para o consumo dos desbravadores e dos animais. Em Fernando Prestes não podia ser diferente.

 

Já passava das 15h e a chuva ainda era forte apesar de ter diminuído o tom. A água borbulhava Rio Mendes abaixo trazendo consigo pedaços de madeiras das cercas, árvores e arbustos das plantações.  O povo sob os guarda-chuvas já estava sobre a ponte como que num ritual vendo a enchente como em todos os verões.  O que estava assustando era o nível do rio que subia sem parar fazendo que os curiosos recuassem passo a passo, até as primeiras golfadas passarem por cima da ponte.  Rapidamente a cidade foi dividida e de longe se avistava a água subindo sem piedade.

 

As primeiras notícias do lado ocidental davam conta que a água já inundava a Vila Pedregal. Um local pobre de casas com poucas estruturas. O pavor tomou conta dos moradores quando uma das casas foi engolida pela água da enchente.

 

A Vila Pedregal foi construída sobre o leito antigo da Estrada de Ferro Araraquara que estava desativada desde a década de 1950. Em meados da década de 1970 o prefeito da época cedeu alguns terrenos a algumas famílias, outras e outras e, logo o curto trecho foi preenchido por várias casas. Cresceu tanto que foi aberta uma rua perpendicular que partia do aterro principal e rumava pelas bandas do rio. A casa que caiu estava na rua Osvaldo Monteiro, homenagem ao primeiro morador daquela via.

 

Os minutos passavam e água continuava a subir e levava consigo tudo que encontrava pela frente. Os estragos na parte central da cidade eram incalculáveis.  Escola, rodoviária, casas, estabelecimentos comerciais, famílias e famílias desabrigadas.

 

Na Vila Pedregal era uma correria de veículos que carregavam as mudanças das casas. O prefeito da época Bento Luchetti Junior estava no lado do rio da localização da vila e acompanhou de perto a angústia das famílias, com suas crianças observando os pais no desespero. Fugiam dali levando o que não estava encharcado pela água barrenta.

 

Assim que o nível da enchente estabilizou e lentamente começou a baixar, as notícias ruins foram propagadas sobre os estragos desde as pontes na zona rural até a cidade. No entanto o mais lamentável foi a morte de “seu Chico” o lavrador João Francisco da Luz de 63 anos. “Seu Chico” estava nas imediações da rodoviária quando a enchente o surpreendeu não tendo tempo para fugir da morte.

 

Na quarta-feira seguinte a calamidade que abateu a cidade, o prefeito Bento Luchetti Júnior munido de um calhamaço de documentos ilustrando os estragos partiu sozinho para Brasília. Antes deixou todos os funcionários públicos municipais de prontidão para ajudar as famílias atingidas pela enchente.

 

Em Brasília peregrinou por vários ministérios e conseguiu voltar para Fernando Prestes com a certeza de que aquilo não iria mais acontecer em sua cidade. Sua prioridade era conseguir um novo local para a população da Vila Pedregal morar e viver em paz saindo daquela malfadada área de risco.

 

O fim das vilas Pedregal e Gaúchos

 

A Vila dos Gaúchos era um pequeno aglomerado com aproximadamente 10 casas, também localizado em área de risco as margens do Córrego do Jacinto, sem coleta de esgoto, asfalto e guias e sarjetas. O local foi povoando principalmente por migrantes sulistas, motivo da denominação, em meados da década de 1980.

 

As vilas Pedregal e Gaúchos eram habitadas por famílias de baixa renda, a maioria trabalhadores rurais que atuavam e atuam nas lavouras de Fernando Prestes e região.

 

Em Brasília, durante as buscas por recursos, o prefeito Junior Luchetti fez diversos contatos políticos em vários ministérios. No Ministério da Integração Nacional, via Secretaria de Proteção e Defesa Civil conseguiu verba para construção de 74 casas que foram doadas sem custo algum a todos os moradores da Vila Pedregal. O novo local foi adquirido pela prefeitura municipal e além das casas, também foi dotado com toda a infraestrutura  como água encanada, coleta de esgoto, energia elétrica, iluminação pública, guias, sarjetas e asfalto. Detalhe: os imóveis foram devidamente escriturados e registrados em cartório. Na Vila Pedregal os moradores não tinham posse legal de seus imóveis e, portanto com pífio valor comercial. A partir de dezembro de 2008, há 10 anos, deixava de existir a Vila Pedregal e nascia o Jardim Luchetti.

 

Edval Calamari, hoje com 40 anos foi um dos moradores que saiu da antiga vila as margens do Rio Mendes para o novo bairro. Casado com Rita com quem tem quatro filhos, disse que ter sua casa própria traz uma segurança muito grande para sua família. “Aqui vivemos em conforto e acima de tudo temos paz” falou Calamari.

 

O aposentado Inácio José Santana, “seu Lagoa”, de 66 anos morava na Rua Oswaldo Monteiro na Vila Pedregal com a esposa e dois filhos. “Além da chuva e o medo das enchentes, na época do calor tinha muito mosquitos que picavam a gente. Foi uma benção esse lugar que viemos morar” disse seu Lagoa. Fez questão de mostrar à reportagem sua parreira de uvas bem a frente de sua casa. “Lá a gente até plantava alguma coisinha, mas não sabia se ia ter colheita” concluiu o aposentado.

 

Uma grande conquista para Fernando Prestes e gigante para aquela população que morava na área de risco da Vila Pedregal. Mas algo, que completaria o maior projeto urbano de Fernando Prestes, ainda estava por vir. Junior Luchetti batia na tecla de zerar as habitações precárias na cidade. O que fazer então com a Vila dos Gaúchos? As 74 casas do Ministério da Integração Nacional abrigaria por direito apenas os habitantes da Vila Pedregal e não comportaria outra situação.

 

O prefeito afinou seus contatos políticos e intensificou suas idas à Brasília. Enfim, ainda em 2007 Junior Luchetti anunciava a liberação pelo Ministério das Cidades de recursos para a construção de mais 20 moradias, que acomodaria famílias de baixa renda. Com isso atendeu todas as famílias da Vila dos Gaúchos. Foi um importante projeto de desfavelamento não apenas para Fernando Prestes, mas serviu de exemplo para outras cidades do Estado de São Paulo. Todas as 94 moradias não tiveram custo algum às famílias.

 

Hoje, Bento Luchetti Junior que faz seu terceiro mandato como prefeito do município de Fernando Prestes, faz uma reflexão sobre essa façanha de 2008. “Demos um lar decente às 94 famílias do nosso município. Apesar de ser algo concreto pela própria existência do bairro, nós conseguimos alentar o subjetivo e abstrato desses homens, mulheres e crianças: o adeus ao medo da área de risco para a segurança da terra firme” concluiu Junior.

 

Link com notícias da época da enchente

 

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2901200708.htm

 

https://noticias.uol.com.br/uolnews/brasil/2007/01/30/ult2492u354.jhtm

 

https://pt.climate-data.org/location/287279/

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CAÇADORES DE VAMPIROS
Vampiros: Não podemos exterminá-los. Apenas controlá-los

Publicado em 21/07/2018 as 6h

 

Por José Saul Martins*

 

Conteúdo jornalístico produzido com apoio da empresa:

Histórias de vampiros são contadas desde a antiguidade. No entanto, a narrativa deste conteúdo está relacionada ao morcego hematófago que tem uma alimentação exclusiva de sangue e, por isso, ficou conhecido como morcego-vampiro. É ele, também, o transmissor da raiva. A característica de se alimentar com sangue levou o morcego, as histórias de vampiros. 

 

Apesar de muitas culturas possuírem lendas sobre os morcegos-vampiros, se tornaram parte integrante das tradições populares sobre vampiros, quando foram descobertos na América do Sul, no século XV. Embora não existam morcegos vampiros na Europa, os morcegos noturnos e corujas, há muito, são associados com presságios e o sobrenatural.

 

As três espécies de verdadeiros morcegos-vampiros estão restritos a América Latina, e não há nenhuma evidência de terem parentes no Velho Mundo. Por este motivo é impossível que o vampiro da tradição popular represente uma versão distorcida ou memória longínqua do morcego-vampiro. Estes morcegos foram nomeados deste modo devido ao vampiro folclórico, e não o inverso.

 

Mas por que caçadores de vampiros?

 Aí entra uma história real e nada tem a ver com os romances sobre os vampiros famosos tratados pela literatura e cinema. Trata-se do Programa Estadual de Controle da Raiva dos Herbívoros, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo desenvolvido pela Coordenadoria de Defesa Agropecuária – CDA - que periodicamente busca abrigos de morcegos Desmodus rotundus.

 

O Programa Estadual de Controle da Raiva dos Herbívoros visa proteger os rebanhos suscetíveis à “raiva”, mediante vacinação, controle dos transmissores e do trânsito de animais, desenvolver sistema eficaz de vigilância epidemiológica e estimular a participação comunitária na defesa sanitária animal, diminuindo o agravo à produção pecuária e preservando a saúde pública.

 

A raiva é uma zoonose causada por um Rabdovirus neurotrópico, sendo suscetíveis todos os mamíferos, inclusive os silvestres e os exóticos (javalis e javaporco). Apresenta distribuição geográfica cosmopolita, lesões de natureza de poliencefalomielite linfocitária e sintomas de excitação e paralisia de diversas naturezas e sempre fatal. Na raiva dos herbívoros a fonte de infecção mais importante é o morcego hematófago da espécie Desmodus rotundus.

 

Conforme dados da CDA houve um aumento em 87% nos casos de raiva comparando 2016 e 2017. Foram 196 casos positivos em bovinos, equinos e ovinos em 2017, contra 105 do ano anterior. Este ano, os números continuam altos, de janeiro até meados de junho houve 101 casos positivos de raiva em bovinos, equinos e suínos, além de dois casos em cães e gatos.

 

Segundo Paulo Fadil, médico veterinário responsável pelo programa, a raiva causa prejuízos aos produtores, pela morte de animais. Para o Estado, os prejuízos decorrem de gastos com diagnósticos, vacinas e pessoal que atua na prevenção da doença. Para a comunidade internacional a doença é um fator de depreciação do nosso produto. Sendo uma zoonose, representa sérios riscos à saúde pública. Embora as notificações de raiva humana serem raras, recentemente, no Amazonas, em uma mesma família, três crianças foram vítimas da doença, duas fatais e uma ainda internada em estado gravíssimo.

 

 Os caçadores

Acompanhamos no munícipio e região de Avaré, no centro sul do Estado de São Paulo, entre os dias 11 e 13/06, uma equipe de técnicos da Coordenadoria de Defesa Agropecuária, participantes do Programa Estadual de Controle da Raiva dos Herbívoros. A presença dos técnicos em Avaré aconteceu devido a uma notificação recente de raiva animal em bovino.

Por se tratar de um trabalho bastante específico e habilidades técnicas apuradas, o recrutamento dos funcionários públicos acontecem em diversos Escritórios de Defesa Agropecuária (EDA) de várias regiões de São Paulo.

 

O encontro dos “morcegueiros”- como se auto intitulam os técnicos que atuam no programa – aconteceu na Casa da Agricultura, no dia 11 de junho, no centro da cidade de Avaré, no período da manhã e os trabalhos de campo começaram no dia 12 de junho.

 

 A força tarefa em Avaré consistia basicamente em inspeção de “perifoco” e revisita a abrigos cadastrados com ocorrências do Desmodus. O “perifoco” é a varredura completa, num raio de cinco quilômetros, do local que foi notificado o caso de raiva. Nessa varredura os agentes visitam propriedades em busca de abrigos naturais (cavernas, árvores ocadas, etc.) e artificiais (bueiros, casas abandonadas, pontes, etc.).

 

 No dia 12 de junho acompanhamos uma equipe que estava fazendo um recorte do “perifoco” e dezenas de possíveis abrigos foram vistoriados, mas não foi encontrada nenhuma ocorrência de habitat do morcego-vampiro. Durante essas visitas os agentes também entrevistam sitiantes e seus funcionários orientando sobre os problemas e medidas preventivas da raiva e possíveis paradeiros do Desmodus.

 

Apesar da possibilidade de todos os morcegos transmitirem raiva, o controle é feito apenas com o Desmodus. Por ser hematófago se alimenta de sangue e, nesse contato, se estiver com o vírus da doença contamina os animais “mordidos”.

Os especialistas disseram que um dos grandes problemas com a raiva é a subnotificação, quando proprietários rurais por medo de supostas retaliações não comunicam aos órgãos oficiais quando um animal é morto pela doença.

 

 A captura

No dia 13 de junho duas equipes de técnicos foram checar um abrigo cadastrado no município de Iaras, vizinho de Avaré.

Após percorrer em uma estrada de terra batida por mais de 20 quilômetros chegamos ao aterro de uma grande represa artificial com passagem para apenas um veículo. O abrigo em questão era um dreno desativado de tubos de concreto com aproximadamente 80 centímetros de diâmetro. MaiKel e Rodrigo, dois especialistas da equipe foram checar a saída do tubo em busca de Rotundos. Deu positivo.

 

O lado direito da represa é composta de pequenas propriedades de um assentamento rural de grande proporção denominado Zumbi dos Palmares, com mais de 358 famílias distribuídas em 4.000 alqueires. A esquerda do lago pode-se avistar uma propriedade com pastagens salpicadas de bovinos nelores. Prato cheio e apetitoso para os vampiros. Abaixo da represa seguindo o que seria o fluxo natural das águas, um médio capão de mata nativa cobrindo toda a extensão do aterro de aproximadamente mil metros. Local perfeito para os pequenos mamíferos alados: comida, água, árvores e até um abrigo artificial, que aquele dia estava sendo vistoriado para o azar deles.

 

Ismael e Irineu, os outros dois agentes começaram então a apanhar as tralhas nos veículos. Foi decidido entre eles que quem entraria no tubo de concreto seria o Ismael e o Rodrigo. Macacão, pantaneira com botas, capacete com lanterna de LED acoplada, máscara, luvas de raspa de couro. A pantaneira é uma calça com cós alto feito de material impermeável acoplada a uma bota de borracha que serve para proteger os membros inferiores e abdômen, de ataques dos morcegos e outros animais peçonhentos que por ventura os agentes encontrem pelo caminho.

 

Antes de acessar o abrigo foi montada uma rede na entrada do tubo para os bichos não fugirem. A intenção dos técnicos é desalojar os morcegos do esconderijo e ao saírem se enrosquem na rede e assim capturados com vida. Maikel ficou na parte de dentro ajudado por Irineu desenleando os  vampiros da armadilha e guardando-os numa pequena gaiola de arame. Dos que estavam no abrigo apenas três escaparam e voaram pela mata.

 

Após a captura os morcegos recebem nas costas uma pasta vampiricida a base de vaselina e warfarina, um anti coagulante que causa hemorragia (derrame), não apenas nos capturados, mas também em outros indivíduos da colônia, devido ao hábito que bichos tem de se lamberem mutuamente. Naquele dia foram capturados e “tratados” 42 morcegos, sendo 19 machos e 23 fêmeas e era um abrigo maternidade, quando o grupo é formado por machos, fêmeas e filhotes. Também tem os abrigos satélites, normalmente compostos por  pequenos grupos de morcegos machos que foram expulsos das colônias pelos machos dominantes. É comum esses morcegos excluídos formarem uma nova família com assédio a fêmeas desagrupadas.

 

Outra forma de usar a pasta vampiricida é usar nas imediações das feridas dos animais atacados, pois os vampiros retornam a mesma fonte de alimento e se lambuzam com pomada. Os técnicos disseram que as pessoas não devem matar e manusear os morcegos, nem mesmo os frutíferos, porque também podem conter o vírus da raiva. Quando houver ocorrência de morcegos, principalmente os hematófagos, deve ser comunicado as autoridades de zoonoses.

 

*José Saul Martins é jornalista e criador do jornal e site A Trombeta

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ROTAS DAS TOCAIAS
Capelinhas: mortes, tradição e marcas de uma época

Publicado em 22/05/2018 as 6h42

 

Por José Saul Martins*

- Até logo dona Augusta. Inté semana que vem – despediu-se o moleque carteiro saltando sobre sua égua Pombinha.

- Vá com Deus Sebastião. Até semana que vem – não sabia ela que aquelas cartas seriam as últimas do mensageiro Sebastião: o “Negrinho carteiro”.

 

Naquele mesmo dia, na primeira década do século passado, quando o mensageiro, completando sua rotina entregando cartas pelos sítios e fazendas da região de Fernando Prestes, entrou na estrada principal que ligava à Vila de Agulha tomou um baque no peito deixando a Pombinha cavalgar sozinha até perceber que não estava montada por seu cuidador e fiel companheiro.

 

O diálogo e os detalhes da cena narrada acima são fictícios, mas a história é real. Segundo a transmissão oral de pessoas mais velhas versa sobre esse estúpido homicídio que aconteceu em Fernando Prestes ainda em seus primórdios, quando um mensageiro que fazia a distribuição das correspondências pela zona rural foi morto a tiro por um fazendeiro.  O assassino estava em sua propriedade a comprando uma “carabina” e, querendo testar a arma, carregou-a e vendo um cavaleiro que vinha pela estrada resolveu atirar, não pensando na consequência de seu ato paranoico e assassino. O cavaleiro,  o “Negrinho carteiro”, como era carinhosamente chamado na região. Nesse local, onde o carteiro foi morto a tiro, foi erguida uma capelinha ou santa-cruz, assunto que será tratado nessa reportagem: rotas das tocaias.

 

Antes de falar sobre as capelinhas e as tocaias é importante contextualizar o leitor sobre aquela época. A partir de 1820, o interior do Estado de São Paulo começa a participar economicamente do país com a expansão agrícola e o ciclo do café. As primeiras fazendas seguiam as rotas pluviais e “picadas” deixadas pelas “bandeiras” que incursionaram Brasil afora partindo da cidade de São Paulo. Automaticamente as regiões entre os rios Tietê e Grande começaram a ser ocupadas principalmente com a doação de sesmarias na época Imperial, com a derrubada das matas e a formação de lavouras de café.

 

Segundo o livro “Fernando Prestes – resgate de sua memória” os primeiros sinais de povoação do local aconteceram por volta de 1891, com a extração de madeira nas proximidades do Rio Mendes. Em seguida a implantação da primeira fazenda cafeeira de Francisco Sales de Almeida Leite em 1894: a Fazenda Santa Albertina. Nos anos seguintes à formação do povoado de Fernando Prestes e em 1909, a estação ferroviária foi inaugurada oficialmente alavancando a economia local. No entanto, um dos primeiros núcleos urbanos desta micro região foi Aparecida de Monte Alto em 1848, devido a religiosidade do local. 

 

Com o surgimento de outros povoados foram construídos caminhos e estradas rudimentares que faziam as ligações entre esses locais. Eram nessas estradas que aconteciam as tocaias que vitimavam muitas pessoas e nesses pontos familiares e amigos dos falecidos construíam as capelinhas.

 

Western caboclo

Até meados do século passado, o banditismo preocupava muito a população que vivia atormentada por ladrões e malfeitores. Esse fenômeno não era exclusividade de Fernando Prestes, mas de todo interior de São Paulo e do Brasil. Histórias de criminosos como “Dioguinho” na região de Ribeirão Preto e de Lampião de seus cangaceiros no nordeste brasileiro lembravam o “western” em alusão a colonização do oeste americano e seus tiroteios mostrados pelo cinema posteriormente, mas já conhecidas pelos paulistas do interior: “western caboclo”.

 

Pedro Segura, de 95 anos, conta que havia muitas santa-cruzes na estrada que ligava Fernando Prestes a Aparecida de Monte Alto. Afirma que não eram todas as mortes motivo de construção de capelinhas, apenas naqueles casos que a vítima tinha uma família ou um bom relacionamento no local que residia. Referindo-se sobre histórias que seu pai contava, fala que o “carroção” (meio de transporte de agentes funerários) quase todos os dias buscava corpos as margens da citada estrada. Lembrou do caso de um homem que ao chegar em casa viu seu pai e irmão assassinados e saindo em busca dos criminosos os alcançou, onde hoje é a entrada do desvio de caminhões de cana (paineiras), matando a tiros três pessoas. Nesse lugar havia uma capela que fora demolida.

 

Muitas outras capelinhas foram demolidas com o asfaltamento da vicinal Adauto Ravazzi que liga Fernando Prestes a Aparecida de Monte Alto. Apenas três foram preservadas e duas estão em bom estado de conservação. Na estrada municipal que faz a ligação com o distrito de Agulha também foram demolidas algumas durante a implantação do Programa melhor Caminho, que retirou os barrancos e outras benfeitorias.

 

Entre Agulha e Fernando Prestes existem três igrejinhas, duas delas foram reconstruídas por Alfredo Passolongo, 80 anos, que residiu por muitos anos em seu sítio localizado à margem da estrada. Uma dessas capelinhas é a do “Negrinho carteiro” e a outra é de uma garota que também morreu de forma violenta atropelada por um boi bravio que estava sendo conduzido. “O boiadeiro trazia um boi no laço e ao cruzar com a menina não deu tempo de segurar e nem dela fugir devido ao barranco. Matou a mocinha a cifradas” disse Passolongo.  Nesse local além de reconstruir a igrejinha, Passolongo fez um jardim plantando árvores e flores cuidando até hoje.

 

Apesar da maioria não receber manutenção, as capelinhas resistem a dezenas e dezenas de anos. Tem algumas com mais de um século. No interior dessas igrejinhas existe uma grande quantidade de imagens de santos quebradas, quadros com motivos religiosos danificados, terços faltando contas, crucifixos, flores de plástico e até peças de roupa. A crença de que, não se pode descartar uma imagem benzida de santo quando quebrada faz que as pessoas levem seus “santinhos” às capelinhas e lá depositam.

 

Por ser o centro urbano mais antigo da micro região, Aparecida de Monte Alto era ponto de convergência de muitas pessoas que residiam em povoados e propriedades rurais vizinhas e ainda hoje por essas antigas estradas também é possível encontrar capelinhas incrustradas em suas margens. Uma que chama atenção por seu estilo arquitetônico, bem depredada mas impondo-se com um arco romano em seu pequeno portal de entrada está situada no caminho que liga Aparecida a Ariranha no bairro Tanquinho.

Brás José Motta, 74 anos, morador do Tanquinho desde que nasceu conta que não sabe quem faleceu naquele local, mas seus parentes diziam que fora uma tocaia. Disse que a estrada era um pouco mais acima rumo ao espigão e numa época que não se recorda o caminho foi mudado próximo ao Rio da Onça e então seus familiares também mudaram a capelinha.

 

O fim

O costume de se construir uma igrejinha no local de falecimento de uma pessoa as margens das estradas há muito tempo está em desuso. Nas estradas mais novas abertas em meados do século passado não existem as capelinhas e sim apenas pequenas cruzinhas fixadas no solo e também os falecimentos não foram vitimas de tocaias, apesar de ter sido mortes violentas por acidentes automotivos. Tanto que na via de acesso (SPA310/348) que liga Fernando Prestes a Rodovia Washington Luís, em vários pontos existem cruzes que marcam o falecimento de pessoas por acidentes.

 

*José Saul Martins é jornalista e criador do jornal e site A Trombeta

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A ferrovia que virou canyon

Publicado em 22/07/2017 as 10h

 

Por José Saul Martins*

 

Ao retratar o Brasil não existe a possibilidade em não mencionar a participação das ferrovias no contexto desenvolvimento  principalmente na região Sudeste e particularmente no  Estado de São Paulo. A pauta econômica era ditada pela agricultura cafeeira que povoou o interior ainda nas frescas pegadas dos Bandeirantes com plantas e colonos.
 

Mas a agricultura esbarrava na logística da escoação do “ouro negro” já que São Paulo não dispunha de malha fluvial apta a colaborar com entrega do café em Santos.
Diante disso os fazendeiros exerciam firme participação no cenário político econômico e as ferrovias riscavam o interior paulista levando e trazendo mercadorias, pessoas e sonhos. 

 

Um desses trajetos que compunham a malha ferroviária paulista no começo do século passado foi Ferrovia Monte Alto da Companhia de Melhoramentos Monte Alto. Com um percurso de 32 quilômetros  partindo de Ibitirama,  passando por Monte Alto, Homem de Mello, Tabarana e Vista Alegre do Alto.  Havia uma outra parada não oficial mas é lembrada pelos usuários: o Posto 5.

 

Do começo ao fim
Segundo informações constantes em publicações que circularam durante vários períodos, desde o frenesi da inauguração como a tristeza do encerramento das atividades em 1956 a estrada de ferro foi um empreendimento importantíssimo para a época.

 

O vista alegrense Celso Chaves, 80 anos, lembra perfeitamente do tempo que usava a ferrovia. Conta que quando menino ia frequentemente com seu pai até Monte Alto fazer compras e era preciso tomar muito cuidado com as fagulhas que a locomotiva soltava pela chaminé. “Parecia uma brasinha a toa e quando a gente via a roupa da gente estava furada” disse Chaves em tom bem humorado. 
 

Mas as finanças da ferrovia não andavam bem e em 1938 foi anexada a Estrada de Ferro Araraquara e passou a fazer parte da malha paulista de ferrovias. Segundo o jornal Folha da Manhã em sua edição de 29/04/1953 veiculava o seguinte título em sua página 8 (http://acervo.folha.uol.com.br/fdm/1953/04/29/1/): “Cinco estradas constituirão a Rede Ferroviária Paulista”  e destacava: “Sorocabana, Araraquara, Monte Alto, São Paulo e Minas e, Bragantina vão ser incorporadas à autarquia – Ainda no primeiro semestre deste ano a criação do órgão centralizador das ferrovias”.  Mesmo com a incorporação a rede estadual a ferrovia foi desativada em 1956 deixando lembranças.

 

Novos tempos
Com a retirada dos trilhos em 1956 o espaço do leito da ferrovia começou a ser ocupado por agricultores em suas lavouras e o traçado foi apagado literalmente. Exceto alguns pontos.
Como é possível apagar o trecho da ferrovia que fora aberto no meio de uma serra? Não tem jeito.

 

Mas, passado 60 anos desde a extinção da ferrovia começa a surgir novas ideias e práticas sobre essas marcas da história.  E o sulco do traçado no topo da serra deixou de ser ferrovia e passa a ser um canyon na “Serra do Morrinho de Santa Luzia”.
 

No último dia 20/06 um grupo de ambientalista de Monte Alto e algumas cidades vizinhas ao canyon (Vista Alegre do Alto, Fernando Prestes, Cândido Rodrigues e Pirangi), juntamente com Rodrigo Robes, engenheiro ambiental da Usina Nardini, proprietária da Fazenda Santa Luzia onde está inserida a maior parte do canyon, estiveram visitando o local. 
 

A ideia dos visitantes é ter o local como espaço alternativo em cultura, educação e eco-turismo. Pensando nesse viés Robes já faz prospecção no desenvolvimento que pode ocorrerem na região e pontua alguns aspectos: desenvolvimento ambiental, científico, cultural, de ecoturismo e social.

 

*José Saul Martins é jornalista e criador do jornal e site A Trombeta

Canyon sendo visitado por ambientalistas

Canyon sendo visitado por ambientalistas

Ferrovia Monte Alto por ocasião de sua construção

Ferrovia Monte Alto por ocasião de sua construção

Ambientalistas durante visita no Morrinho de Santa Luzia

Ambientalistas durante visita no Morrinho de Santa Luzia

Estação de Vista Alegre do Alto que foi restaurada

Estação de Vista Alegre do Alto que foi restaurada

Celso Chaves lembra quando viajava pela ferrovia

Celso Chaves lembra quando viajava pela ferrovia

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​Anjos e guardiãs. Histórias de superação e amor à vida

Publicado em 12/12/2016 as 18h


Por José Saul Martins*


A narrativa a seguir tem a finalidade de tirar o leitor da zona de conforto ou até mesmo fazer com que reflita sobre a real magnitude de seus conflitos e problemas.


Cezar, João Vitor e Nicole. Três crianças com algumas diferenças e muitas particularidades. Onze, nove e dois anos de idade respectivamente.

A ideia em fazer uma reportagem sobre crianças com necessidades especiais surgiu após algumas idas e vindas a São José do Rio Preto com a “van” da Saúde. Durante essas viagens notei alguns passageiros especiais e seus tutores. Pequenos passageiros, que certamente não viam as luzes brilhantes que correm através das janelas, dos nem tão confortáveis veículos que os transportam em busca de ajuda médica em centros maiores.


A paralisia infantil

Com 44 anos, Maria José dos Santos é hoje a mãe de João Vitor Viegas Ribeiro da Luz. No dia da entrevista chovia e nos acomodamos na cozinha da casa no bairro Jardim Villa Carlin, em Fernando Prestes. João Vitor estava fixado em sua cadeira com semblante de moleque arteiro e alegre.

Maria José arrumou o cabelo e sentou, ao lado do garoto, com certa dificuldade devido ao aparelho ortopédico em sua perna. Aparelho ortopédico? Isso. A paranaense de Goio-Ere teve paralisia infantil aos 11 anos e traz uma bota ortopédica em sua perna direita desde sua meninice. João entende tudo que está acontecendo e se comunica com olhares, gestos e com o nariz que tecla a tela do smartphone mandando figurinhas, principalmente à sua irmã Kesia.

Após complicações no parto João Vitor nasceu com sequelas de coordenação motora. Como sua mãe biológica precisava trabalhar na lavoura Maria José começou a cuidar de João quando ele tinha apenas três meses de vida. Certo dia entre o ir e voltar da casa do garoto até Maria José, pois durante a noite ele ficava com a mãe, ela resolveu pedir João em adoção. Sob o consentimento da família o menino foi morar com sua nova mãe.


A pergunta

Por que você adotou o João?

Resposta: Para ele não sofrer como eu. Não ser rejeitado como fui pela minha própria família. Silêncio na cozinha. Maria José explicou que teve problemas a poliomielite quando criança, pois sua família não aceitava a doença e a renegava. “Hoje, até entendo que éramos de uma família pobre e eu era vista como um empecilho. Sobrevivi e estou aqui cuidando desse ser humano maravilhoso”, disse Maria José.

A luta de toda a família de João Vitor é fazer com que ele seja uma pessoa independente, sem precisar de ninguém para sobreviver. Além do menino ter acompanhamento periódico de profissionais de saúde, que promovem sua habilitação físico-motora, ele estuda e está na 2ª série do Ensino Fundamental, em uma escola  pública aqui em Fernando Prestes.


A mineira dona Nice e sua netinha Nicole

Mãe de cinco filhas, a mineira natural de Jacué, cuida sozinha de Nicole de dois anos e meio, portadora de hidrocefalia e de outros netos. Eunice Aparecida da Silva, de 60 anos, mora com uma das filhas que não é a mãe de Nicole e, vários netos, no Jardim Vista Alegre, no distrito de Agulha.

Dona Nice contou que sua filha é dependente química e tem períodos de sobriedade e outros de crise. “De vez em quando ela some sem dar notícias ficando jogada nesse mundo”, lamentou Nice que cuida, além de Nicole, de Adriele e Laine, irmãs da Nicole.


Retirantes

A história da vida de Eunice é repleta de sofrimento e luta constante de sobrevivência. Disse que seu marido era alcoólatra e fez muita besteira na vida. Contou que logo após o casamento foram morar em uma região nos confins do Mato Grosso, na divisa com o Amazonas. “A gente vivia mudando de fazenda em fazenda e a cada retirada vendíamos todas as criações e os ‘trens’ (utensílios domésticos) e aí tinha que lutar mais de ano para conseguir tudo novamente”, falou Nice.

Esse vai e vem durou até Eunice engravidar de Silvana, a mãe de Nicole. Pensando no bem estar do bebê que estava por vir, enfrentou o marido e saiu de Mato Grosso. Moraram um tempo no Paraná e mudaram para Agulha, quando todas as filhas já tinham nascido.

Durante a entrevista Nicole acordou e a avó a apanhou no berço protegido por um tule para evitar que mosquitos piquem a menina.

Segundo a avó a garota nasceu normal. No entanto algum tempo depois começou a apresentar problemas e foi diagnosticada com hidrocefalia. Uma doença rara, que é o acúmulo de líquidos nas cavidades craniana que pode causar danos cerebrais.

Após essa constatação Eunice deixou de trabalhar na lavoura e passou a se dedicar exclusivamente para a neta, pois a mãe da menina fica constantemente ausente. Nesse período de tratamento Nicole teve meningite, agravando ainda mais seu quadro neurológico.

A alimentação da criança é feita com um leite especial e que custa caro e mesmo recebendo ajuda do município, muitas vezes acaba comprando com o dinheiro da pensão do marido. Dona Nice acredita na recuperação da netinha. “O grande sonho de minha vida e ver a Nicole crescer e brincar com as irmãs e primos” concluiu a avó.


Os medos da mãe de Cezar

A notícia de que um outro garoto, também portador de necessidades especiais, Cezar Augusto Pereira Waltman, de 11 anos morava ali perto chegou quando entrevistava dona Nice. Bati na porta da casa indicada, no Jardim Vista Alegre, em Agulha e fui atendido por uma mulher ainda jovem: a mãe de Cezar. Pediu alguns minutos para troca-lo, pois ele estava dormindo e acabara de acordar.

Ao chegar à sala da casa vi um jovem no colo de sua mãe. Imediatamente veio em minha mente a Pietà de Michelangelo. Felizmente Cezar estava e está vivo. Apesar de seus 11 anos, Cezar é alto e preenche todo o colo de Ana Paula, de 34 anos.

O caso de Cezar e Ana Paula foi o típico caso de desdém, que são tratadas pelo Estado: as mães grávidas pobres e sem recursos financeiros e os acompanhamentos durante suas gestações. Fez apenas um exame pré-natal. Ana Paula disse que o Sistema Único de Saúde (SUS) previu que ela daria a luz a seu filho por parto normal. Passado o prazo de nascimento ela procurou por ajuda médica, mas retornou para casa com a resposta de que na “hora certa” a criança nasceria.

Não tendo as contrações peculiares das mulheres em trabalho de parto, Ana Paula percebeu que Cezar nasceria após o rompimento da bolsa amniótica. Foi socorrida a maternidade mas não a tempo de suprir o filho com oxigênio, sem contar que no parto de Cezar houve a necessidade do uso de fórceps. A carência de oxigênio no pequeno corpo do menino provocou lesões irreparáveis afetando principalmente o sistema neurológico.

Apesar de se comunicar com os familiares por olhares, gestos e murmúrios, hoje o pré-adolescente é totalmente dependente, se alimenta apenas de líquidos e não consegue expelir a secreção que junta em sua boca, sendo necessário a intervenção dos dedos ágeis de sua mãe: a guardiã.


Sentados no sofá

O pai de Cezar chegou com as compras do supermercado e sentou-se conosco no sofá. Um tanto quanto emocionado após a retirada do catarro da boca do menino, perguntei à mãe porque não tentavam mais um filho: “o Cezar toma muito tempo e requer muitos cuidados e talvez a gente não consiga atender outra criança”, disse ela. Outra pergunta: isso é medo de não dar conta do recado? Ela responde com os olhos cheios de lágrimas: “Disso não tenho medo. Tenho medo mesmo do nosso Cezar morrer”.


Agradecimentos: Aos enfermeiros Adriano Luchetti (UBS “Bento Franzoni”) e Sonia Agassi (UBS “José Doce Filho”) pelo apoio durante a produção deste conteúdo


*José Saul Martins - jornalista e diretor do jornal e site A Trombeta

João Vitor fazendo graça com M aria José no quarto onde d o r m e m

 

O garoto passando mensagem para a irmã Kesia

 

Sala da casa cheia de netos e avó com a caçula Nicole no colo

 

Nicole e a avó observam a irmã e seu coelho e o primo tentando
tocar o violão

Cezar e sua mãe Ana Paula durante entrevista

 

A familia de Cezar: a mãe Ana Paula, o pai João Carlos e a avó mater na

 

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TURISMO

Pensando em viajar no final do ano? Que tal unir lazer com cultura e aproveitar para visitar um museu?


 

​Publicado em 27/09/2016 as 15h30

De acordo com o Travelers' Choice Museus 2016, a Pinacoteca de São Paulo foi considerado o melhor museu do País e da América Latina, o museu paulistano também ocupa a 19ª posição no ranking mundial. A votação foi realizada pelos usuários do site TripAdvisor, plataforma de planejamento e reserva de viagens.
Outros três museus paulistanos também estão entre os dez melhores do país, segundo os usuários: o Museu do Futebol, o Catavento Cultural e Educacional e o Masp. Na lista dos mais bem avaliados do continente, além da Pinacoteca, aparecem o Instituto Inhotim, o Instituto Ricardo Brennand, o Museu Oscar Niemeyer e o Museu do Futebol entre os dez primeiros (veja a lista abaixo).


Os 10 melhores museus do país, segundo o Travelers' Choice Museus 2016
1. Pinacoteca de São Paulo – São Paulo, SP
2. Inhotim - Brumadinho, MG
3. Instituto Ricardo Brennand - Recife, PE
4. Museu Oscar Niemeyer - Curitiba, PR
5. Museu Imperial - Petrópolis, RJ
6. Museu do Futebol - São Paulo, SP
7. Catavento Cultural e Educacional - São Paulo, SP
8. Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) - São Paulo, SP
9. Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS - Porto Alegre, RS
10. Museu Cais do Sertão - Recife, PE


Os 10 melhores do Travelers' Choice Museus - América do Sul
1 Pinacoteca de São Paulo - São Paulo, Brasil
2 Inhotim - Brumadinho, Brasil
3 Museu do Ouro - Bogotá, Colômbia
4 Museu Larco - Lima, Perú
5 Instituto Ricardo Brennand - Recife, Brasil
6 Museu Oscar Niemeyer - Curitiba, Brasil
7 Museu Botero - Bogotá, Colômbia
8 Museu Imperial - Petrópolis, Brasil
9 Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA) - Buenos Aires, Argentina
10 Museu do Futebol - São Paulo, Brasil

Pinacoteca em São Paulo atrai milhares de visitantes todos os anos com exposições nacionais e internacionais/ Arquivo Jornal A Trombeta


Museu Cais do Sertão em Recife-PE faz muitas referências a Luiz Gonzaga |Imagem: http://mandacarusp.com.br/


RUMO A CAPUTIRA

Ciclistas de Catanduva fazem pedal matutino à Caputira

Publicado em 05/04/2016 as 16h

 

Por José Saul Martins*

 

Até achei que estava atrasado, pois o “pedalzinho” estava marcado para sair às 7h. Cheguei as 6h55 e o Mauro Luchetti já estava esperando, pois apoio que é apoio chega antes. O “pedalzinho da vó Lourdes” do domingo dia 03/04 sairia defronte ao condomínio “LLuminar Residencial” e por terra iriamos até ao bairro da Caputira.

 

Enquanto chegava a turma, me explicavam que normalmente os grupos de ciclistas, também chamados de “pedais”, organizam trilhas mais longas e trajetos diferentes. Cada grupo com seu roteiro, mas nesse dia,  a “vó Lourdes”  organizou um passeio com integrantes de vários times. Bombou. Durante a chamada notamos a presença de mais de 50 participantes.

 

A largada foi às 8h30 e rumamos à Caputira. O destino do pedal daquele dia foi um bairro do município de Elisiário, famoso por suas “porcadas” e nosso trajeto, segundo o Google foi de 9,8 km. A ida foi tranquila e o grupo preenchia entre a dianteira e nós que erámos os últimos no apoio, uma extensão de três quilômetros na Estrada da Barroca. Na Caputira estava marcado o café e em seguida o retorno. Chegamos as 9h40. Café servido e o folego recuperando.

 

O café e histórias

Apenas um pedacinho de bolo me saciou e fui para o bate papo com os participantes. Havia explicado ao grupo em nossa largada o motivo da minha presença, mas na Caputira  disse estava ali fazendo uma matéria sobre as várias aplicações das bicicletas e uma delas era aquilo que estavam fazendo: “montain bike”.


Maria de Lourdes Sanches Serain, 60 anos, aposentada, dona de casa, esportista

convicta e titular de uma jovialidade de dar inveja. No dia anterior participara de um triatlo em São José do Rio Preto. Mostrava orgulhosa, sua medalha de participação. Falei com dona Lourdes, não penas por ser a organizadora, mas por ser a mulher mais idosa do grupo.  Disse que começou a pedalar há dois anos por incentivo do genro e não parou mais.

Claro que a dona Lourdes trouxe a família inteira. Todo mundo convocado inclusive seu genro incentivador, filha e os netos, um deles o caçula do grupo: Thales Serain Coelho, 8 anos. Perguntei o que estava achando do passeio e me confessou estava um pouco cansado mas já era o quarto “pedal” que participava. Estava com o pai Thiago, a mãe Ana Paula e o irmão mais velho Thomaz.

 

Alegre e aparentando bem menos que seus 66 anos, Antonio Perez Martins, comerciário é o mais velho do “pedalzinho” deste domingo. Por incentivo do filho, Martins disse que pedala há três anos e cada dia que passa faz mais amizades.

 

O advogado Thiago Coelho de 38 anos, genro e incentivador de dona Lourdes tem uma história para contar. Juntamente com seis companheiros (Marcelo e Ricardo Bittencourt, David Grandolfo, Cristian Balduino, Cezar Pincini e Sérgio “Ilhabela”) participaram de um pedal internacional. Saíram de Rio Grande-RS e foram até Buenos Aires na Argentina. Pedalaram 970 km em nove dias.

 

Café tomado chegou a hora de retornar à Catanduva. Fiz questão de fazer uma foto exclusiva dos garotos do passeio e voltamos continuando no apoio com a pick-up do Mauro. A volta foi mais cansativa e acabamos por transportar três bikes na caçamba da caminhonete.  Chegamos por volta das 12h ao mesmo local de partida, com o céu azul e um sol a pino. Os participantes contentes e satisfeitos e eu marinheiro de primeiríssima viagem deslumbrado.

 

*José Saul Martins é jornalista e criador do jornal e site A Trombeta

 

IMAGENS 



A SEMENTE

A cápsula fúnebre que transforma o falecido em árvore

Publicado em 02/03/2016 as 7h

Aquela idéia de cemitérios com jazigos frios e cinzentos ou então descampados com lápides brancas e seus nem tão criativos epitáfios já estão ficando obsoletos. Um projeto criado na Itália denominado “Cápsula Mundi” promete dar uma nova forma de sepultamento e ainda ser ecologicamente correto.


A morte sempre foi uma das mais enigmáticas questões da humanidade. Sabe-se onde está o corpo, mas o plano espiritual ainda é uma questão de fé e de religiosidade. No entanto, ao longo de muitas gerações respeitando e defendendo as crenças religiosas existem, foram criados certos rituais para perpetuar o corpo lugares de visitação para lembrar o ente querido, amigo ou familiar.


A iniciativa é chamada, “Cápsula Mundi " e, em suma, é a forma mais ambientalmente correta para sair deste plano terreno e dar o último adeus fundindo-se com a natureza.


Capsula Mundi é um projeto de Anna Citelli e Raoul Bretzel, que prevê uma abordagem diferente sobre a morte. É um recipiente em forma de ovo, uma forma antiga de sepultamentos feita de material biodegradável, onde os entes queridos falecidos são colocados para o enterro. 


O “ovo” em seguida é enterrado como uma semente na terra. Uma árvore escolhida em vida pelo falecido será plantada em cima dele e servirá como um memorial para  aqueles que morreram e como um legado para a posteridade e para o futuro do planeta. 


“Família e amigos vão continuar a cuidar da árvore à medida que cresce. Cemitérios vai adquirir um novo olhar e, em vez da paisagem fria e

cinzenta que vemos hoje, eles vão crescer em florestas vibrantes. O projeto ainda está em fase inicial, mas incentivada pelo entusiasmo o mundo está aderindo ao novo conceito e estamos trabalhando para torná-lo uma realidade”, diz o site da “Cápsula Mundi”.​

Ilustração mostra a posição dos "ovos" e das árvores

 

 



​MUNDO PET

Dicas e cuidados com os pets

É muito comum nos dias atuais às pessoas terem um ou até mais de um animal de estimação. No entanto não se atentam para os cuidados básicos necessários para o bem estar de seus animais. Muitas vezes  o animal é adotado e quando chega na fase adulta é maltratado, abandonado e até morto pelos donos. A Trombeta vai publicar periodicamente alguns textos abordando o bem estar dos animais de estimação.

Publicado em 29/02/2016 as 5h *

Família: um amigo deve levar só alegrias. Antes de levar um animalzinho para casa, tenha certeza de que ele não será motivo de discórdia e brigas. Caso contrário, todo mundo vai sofrer, principalmente ele.


Alimentação: um animal bem alimentado é um amigo feliz. Forneça alimentos apropriados, de acordo com a espécie e a idade do animal. Os adultos devem ser alimentados duas vezes ao dia, e os filhotes de quatro a seis vezes ao dia. Mantenha sempre a água limpa e fresca à disposição. Recolha os restos de alimentos do comedouro do animal, evitando, assim a proliferação de ratos, baratas e formigas.


Higiene: o cão deve ter abrigo confortável, protegido do sol, da chuva e do vento. Para evitar algumas doenças, recomenda-se um banho por mês. Já os felinos são animais muito limpos e não precisam tomar banho frequentemente. E lembre-se: todo proprietário deve recolher as fezes de seu animal nas ruas, nas calçadas e nos parques. É uma atitude de cidadania e obrigatória por lei.


Cuidados Médicos: seu amigo também precisa ir ao médico. Ao desmamar, ele deve visitar o médico veterinário para desverminar e receber as vacinas. Os filhotes devem ser vacinados com 2, 3 e 4 meses de idade, e os adultos anualmente, com vacina contra a raiva e doenças próprias da espécie. Providencie a vermifugação do seu animal seguindo as orientações veterinárias a esse respeito. E não se esqueça de levá-lo para fazer exercícios.


Atividades físicas: durante o passeio, utilize sempre coleira e guia. É segurança para o animal e para as pessoas. Se o animal for bravo, utilize também a focinheira e evite agressões.


Castração: o animal castrado vive melhor e fica mais dócil. Todo proprietário pode levar seu animal para castração, seja ele macho ou fêmea, de raça ou não. Assim, você contribui para diminuir a superpopulação de animais na cidade.


Lembre-se: Maltratar um animal, por qualquer motivo, além de cruel, é um crime que prevê penas de prisão e multa.


*Publicado originalmente na versão impressa do jornal A Trombeta edição nº207 de 17/02/2016

 

 



FUTURO DA EDUCAÇÃO

E se você tivesse estudado aqui?

Publicado em 05/10/2015 as 5h40*

Por Mildren Lopes Wada Duque **


A famosa frase: “quando se abre uma escola, fecha-se uma prisão”, atribuída a Vitor Hugo, poderia ser uma verdade se as escolas fossem mais divertidas que os shoppings, mais penetrantes que os zoológicos, tão respeitosas quanto os altares das igrejas, ou mais desejosas do que as férias. 
Se assim fossem, as escolas não teriam divisões de classes e séries, os alunos seriam livres para formarem sua própria turma, como nas brincadeiras de rua. Na escola que fecha prisões, os alunos escolheriam seus professores como escolhem seus amigos. Por isso, os professores, teriam nomes mais afetuosos: tutores. 


Os estudos seriam pesquisas de seus interesses particulares. Dentro dessas pesquisas, os tutores orientariam o grupo ou, individualmente, cada aluno, como num programa de mestrado ou doutorado. Além disso, o tutor, aproveitando a pesquisa, encaixaria nela as matérias curriculares correspondentes e outras mais avançadas, de acordo com a caminhada do aluno. 


Para as escolas fecharem as prisões é preciso não só muito livro, mas muita provocação à leitura. Os alunos por si só teriam o livre desejo de buscarem nos livros a base de suas pesquisas, sem nenhuma opressão. Seriam autônomos colhendo conhecimentos da internet, de especialistas, da família e de outras fontes, até a conclusão da pesquisa.


Escolas assim jamais aprisionariam um aluno na sala de aula, diante de uma lousa, quietos, aprendendo sem interesse e impositivamente. Para ficar melhor, as notas seriam abolidas, afinal, quem marca pessoas com números e letras são  

os presídios. As notas seriam grandes relatórios do ser total de cada aluno, feitas não só pelos tutores, mas por psicólogos preventivos, amigos, pais e pelo próprio aluno. Todavia, essa escola seria um lugar onde todos os alunos teriam responsabilidades individuais, para melhorar cada vez mais o ambiente.


O bullying ali não teria espaço, porque haveria uma assembleia só de alunos composta por prefeito, vice-prefeito e dois vereadores, a fim de organizarem, opinarem, reclamarem, criarem leis e projetos para escola. 
Essa escola deveria visitar os pais dos alunos semanalmente em suas casas.


Além disso, atenderia regularmente na própria escola cada pai e mãe, a fim de ouvir e direcionar suas vidas. As famílias seriam tão presentes que se reuniriam todas num domingo por mês, passando o dia todo na escola. Nesse dia, elas celebrariam a graça e o mistério de uma pequena escola fechar tantas “prisões”. Tudo isso poderia ser um sonho, uma tese, uma alucinação, ou, simplesmente a Escola Maria Peregrina.


Na Escola Maria Peregrina não há classes, séries e nem provão. É o aluno que escolhe seu professor, seu grupo de estudo e o que quer aprender. Nesta escola não há apostilas, porque o aprendizado do aluno parte do que ele quer pesquisar. É pela pesquisa de interesse do aluno que seu tutor (professor-orientador) vai inserindo as matérias curriculares. Diante disso, a Escola Maria Peregrina cumpre o papel de provocar prazer, liberdade e autonomia nos alunos e eliminar o monstro chamado: escola.


* Publicado originalmente na edição impressa do jornal A Trombeta edição 203 de 25/09/2015
** Mildren Lopes Wada Duque, fundadora da Escola Maria Peregrina em São José do Rio Preto-SP

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